segunda-feira, 2 de março de 2009

Para falar de romande policial, aí vai um pouco da primeira aventura de Alyrio Cobra!

Em PAISAGENS NOTURNAS , Alyrio Cobra é contratado por um rico executivo, cuja irmã foi assassinada próximo à escola da periferia em que lecionava. Dois alunos confessam o crime. O corpo já foi enterrado. Existem assassinos confessos e um bom motivo - a professora os perseguia e impedia a atividade de venda de drogas nas salas de aula, acabando por expulsá-los da escola. O livro é a história dessa professora assassinada e é também a história de uma série de quadros que retratam paisagens escurecidas pela noite e assombradas pela lua. O que uma coisa tem a ver com a outra é a ponta do fio de uma meada que o detetive Alyrio Cobra tenta decifrar. Até chegar à outra ponta, ele vai ter de enveredar por um mundo em que nada (nem ninguém) é exatamente o que parece ser e vai ter de correr contra o tempo para impedir que a mola propulsora que desencadeia os assassinatos seja estancada. No meio disso tudo vai encontrar fatos que remetem aos nevoeiros descritos pelos poetas românticos europeus do século dezenove, reproduzidos pelos estudantes da então recém fundada escola de direito de São Paulo e retratados nos dias de hoje por uma pintora de nome Domitila.O romance PAISAGENS NOTURNAS é um policial bastante ágil que tem como diferencial trazer em seu enredo um ponto muito importante da história da cidade de São Paulo. Dizem os sociólogos e antropólogos que o que distingue uma cidade de uma aldeia não é o tamanho, mas a presença de uma alma.A criação da Academia de Direito e a conseqüente vinda para a cidade de moços voltados para o romantismo foi a contribuição decisiva para que São Paulo criasse uma alma. Para que o intelecto viesse para a cidade e da união de todas as características formadas até então fosse possível gerar criadores de símbolos que eram os poetas românticos e em especial Álvares de Azevedo.No romance, ao mesmo tempo em que a pintora Domitila cria paisagens que podem ter sido do cemitério da Consolação na época das esbórnias estudantis e que ela traz na memória da alma, o detetive Alyrio Cobra depara-se com um grupo que tenta recriar nos dias de hoje uma das sociedades secretas dos poetas românticos da Academia de Direito. É a sociedade Epicuréia cujos membros imitavam, na garoenta São Paulo de meados do século dezenove, os poetas românticos europeus. O clima da cidade era propício às orgias semelhantes às praticadas na Europa em especial na Londres de Byron, e também ao nihilismo, o desespero, a melancolia impotente que impregnava a poesia romântica. Só que os valores vindos de fora eram frágeis no novo contexto da cidade e acabavam por cair em degeneração.O grupo que tenta mais uma vez espelhar o movimento trazendo-o para os dias de hoje quando a cidade não só tem uma alma, mas uma alma multiplicada pelos tantos grupos étnicos e esfacelada pelos tantos problemas urbanos e pessoais, também acaba por cair em degeneração.O detetive Alyrio Cobra não é somente mais um detetive, mas a autora utiliza-o o para trazer ao leitor um pouco desta história bastante esquecida.

Um comentário:

  1. Vera, parece-me ser bastante interessante !
    Gostei muito da parte em que afirmas que para os sociólogos e antropólogos o que distingue uma cidade de uma aldeia não é o tamanho, mas a presença de uma alma ! ;)

    Bjinhos

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