Escrever sobre o romance policial é uma tarefa complicada. Sou uma escritora de romances policiais. Adoro montar as tramas. No entanto antes de ser escritora sou uma leitora contumaz de policiais. Claro que também leio outros gêneros, sem nenhum preconceito, mas o policial é minha leitura predileta. O que de forma alguma me torna uma especialista no assunto. Aproveito o meu blog para escrever algumas considerações sobre o romance policial. E se você que está lendo tiver algum comentário ou crítica, ela será muito benvinda.
Falar se o livro policial é uma literatura maior ou menor é uma discussão que com certeza não vai chegar a uma conclusão definitiva. Há ensaios famosos de Somerset Maugham e Raymond Chandler, de meados do século passado mostrando que já naquela época a briga estava quente. Chandler batalhou a vida toda para provar que era possível fazer grande literatura no formato policial. E conseguiu umas palavras menos ásperas do temível crítico da época: Edmund Wilson.
Os críticos, que afirmam que a literatura policial é uma literatura menor, têm como principal argumento o fato dela usar uma fórmula que consiste em: crime, investigação e solução. Realmente o romance policial segue essa fórmula, claro que com algumas variações, por vezes ocorrem vários crimes. Como em todos os gêneros literários, existem romances policiais bons, maus e regulares.
O que acredito ser a diferença fundamental é que os grandes romances sempre destruíram valores e criaram novas estéticas. Quando pensamos na literatura como arte, como movimento cultural do mundo moderno, a ordem é tornar novo, é romper com o passado e ser original. As artes modernas têm o dever da vanguarda, de ir à frente da sua época e transformá-la. Vemos isso na pintura, na música, enfim, nas artes em geral. Os críticos valorizam a obra literária à medida que ela supera as anteriores, especialmente na forma e na linguagem.
No caso do romance policial, desde que foi criado por Edgar Allan Poe, ele parte da fórmula: crime, investigação e solução e quanto mais próximo ele ficar dessa fórmula, melhor será o livro. O romance policial, como toda a literatura de entretenimento, precisa de começo, meio e fim muito bem interligados. A perícia do autor em conduzir a investigação é fundamental para conquistar o leitor.
O que se pode afirmar sem sombra de dúvida é que cada vez mais leitores estão lendo romances policiais. E o público é eclético e variado: adolescentes e idosos, profissionais liberais, intelectuais, professores universitários, pesquisadores, homens e mulheres, aposentados, etc. Ainda não existem estudos definitivos para explicar o porquê desse gosto do leitor. Talvez a explicação seja que a própria construção da fórmula traga em si uma grande carga mítica, que passa a funcionar como um arquétipo, pois satisfaz as exigências dos tempos e também a outras elaborações inconscientes (temores e desejos). Também podemos mencionar a presença do lúdico, que estaria no desafio intelectual entre o leitor e o detetive, cuja vitória transmite tranqüilidade e segurança. Para o leitor, o prazer da leitura é seguir o raciocínio lógico, e, no final, ele precisa saber quem cometeu o crime. Quando o detetive captura ou simplesmente aponta o criminoso, há uma sensação de que o mundo foi resgatado do caos, que a ordem foi restabelecida. Como nos contos de fada há um final feliz.
Quando se vê toda essa onda de corrupção nas altas esferas do poder, a população se mostra indiferente porque já sabe que tudo vai se enrolar e jamais vamos ficar sabendo a verdade. Não há raciocínio lógico a ser seguido. No romance policial, a busca da verdade, a certeza de desvendar o mistério, de finalmente solucionar o crime, cativa o leitor. O mistério inicial, a dúvida que inspira, o fato que sempre parece conduzir à razão, a angústia que resulta disso, tudo conspira para produzir uma eletricidade poética de uma qualidade freqüentemente bem superior à realidade que vivemos. Enfim, como nos contos de fada, o romance policial tem um final feliz. Ele resgata o mundo do caos e aplica a justiça.
Quando eu era criança e estava na escola, gostava muito de ler, mas minha matéria predileta era a matemática. Acredito que da junção do gosto pela leitura com equações matemáticas surge o romance policial.